quinta-feira, 10 de abril de 2008

Escola desumanizada

Hoje, chegar ao terceiro ano do ensino médio e entrar em uma faculdade é um passo que só pode ser dado, em sua maioria, pela classe média.
Em cidades do interior que não possuem grandes universidades públicas, estudar em uma faculdade particular é a única solução - para aqueles que podem.-
Mas, hoje a questão é outra.

Nós - e isso inclui você, leitor - temos oportunidade de entrar no caminho para o diploma do nível superior e, na verdade, esse não é o grande temor da juventude de classe média/alta. O grande temor atualmente é a escolha profissional e o processo que contextualiza isso.

O ensino médico inicia-se com a palavra vestibular. Tudo é feito em doses leves e os alunos têm a sensação de a escolha profissional está muito distante. Logo chega o meio do segundo ano e você já fala de vestibular com uma freqüência inesperada.
Até que no primeiro dia de aula do terceiro ano o professor fulano de tal se apresenta e fala do assunto mais importante da sua vida.

VESTIBULAR.

E todos tocam no mesmo assunto, cada um com seu jeito e ideologia.
Eles falam de tudo. Desde dicas de resolução de questões até o que você deve fazer no fim de semana. Uns falam de 6 horas de estudo por dia e outros te aconselham a entrar no pré-vestibular mais próximo.
Afinal você não pode perder tempo.

A partir daí você passa a ser mais um número. É avaliado pelas suas notas e são elas que dizem qual a sua predileção profissional. Você prova sua eficiência pelos acertos obtidos nas provas e mais tarde no próprio vestibular.

E tudo isso acaba quando o seu nome aparece - ou não - numa faixa dizendo que você foi aprovada pra três faculdades quaisquer.
Ah, se você optar por uma particular se prepare psicologicamente.
Você pode ser o novo Freud ou Bakunin... Mas, pouco importa, porque você não passou para uma “federal".

Nessas horas que questiono o real valor do educador. É justo cultivar essa cultura de “ambicionismo” que a cada dia deixam os jovens mais loucos e com a saúde mais fraca?
O objetivo do educador é ensinar o aluno a pensar - e a partir daí ele tira suas próprias conclusões sobre o mundo - ou fazer com que ele seja mais um candidato aprovado?

Quando a escola deveria ser humanizada, a situação se torna cada vez mais desumana. E passa como um rolo compressor sobre aqueles que não estão preparados para enfrentar uma situação como essa.

Por isso sinto que falta um pouco de bom senso dos diretores, professores e estudantes. É obvio que a situação é muito delicada para o jovem - que passa por uma fase de transição - para o professor que muitas vezes é obrigado a mostrar sua eficiência através dos alunos e vestibular. Mas, são nessas horas, que alguns colégios deveriam mostrar o seu diferencial.
E infelizmente elas ficam devendo.

Esperava que ao chegar ao ensino médio pudesse aproveitar a minha maturidade para ter uma visão crítica do mundo.
Mas, por pura falta de sorte, tive muitos professores e pouquíssimos mestres.
Fui vista por muitos como aluna ¹ e não como estudante.
Enfim,
lamento muito pela falta de oportunidade que temos de aprender mais sobre a vida e ensinar também.

Essa matéria -talvez a mais importante- não cai no vestibular.


¹ Aluno : Uma definição grega diz que aluno é aquele que não tem luz.

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